quarta-feira, 17 de novembro de 2010

O sentido de O Sentido da Vida

por Rodrigo Castro


Antes de tudo, o professor Carlos D'Andrea merece uma resposta ao seu comentário na postagem anterior. Não, professor, jamais chegaríamos ao baixo nível de dizer que os Python são o Casseta & Planeta da Inglaterra, como você mesmo deixou claro no seu comentário. Primeiro, por uma questão temporal; segundo, porque não, nunca, jamais. A verdade é justamente o contrário: os comediantes brasileiros claramente se inspiraram no grupo inglês para criar o programa que existe até hoje, e que influenciou também os filmes dos Casseta, como deixaram claro numa entrevista ao site Cinema em Cena. Comparações já foram feitas, e o Casseta & Planeta já foi um tanto melhor do que é hoje. Quem quiser uma crítica um pouco melhor fundamentada comparando o modo de fazer filmes dos Casseta e do Monty Python pode conferir o que Eduardo Valente disse à Revista Contracampo.

Quanto ao último filme da mostra Fã Cine Monty Python, e que também é o último filme feito para o cinema dos Python, O Sentido da Vida, as análises, por mais diferenciadas que sejam umas das outras, tocam sempre num ponto comum: a desagradável surpresa de um filme inconstante. Daniel Dalpizzolo, do Cineplayers.com, é mais enfático e taxativo em sua análise:  incrível como um filme consegue ser tão genial e, ao mesmo tempo, tão decepcionante quanto O Sentido da Vida". Apesar de parecer exagerada, a crítica de Dapizzolo encontra respaldo em diversas outras. O que mais causou espanto sobre o resultado final desta obra de despedida do grupo - despedida cinematográfica, digamos assim, já que os membros encerraram a série em 1974, nove anos antes da estreia do filme - foi o fato de que, como nunca antes houvera, os Python obtiveram financiamento decente para a produção do filme, já que o sucesso da trupe já estava mais do que consolidado. Nos dois outros filmes feitos para o cinema, o grupo mal contou com algum investimento, dependendo de ajuda de fãs como Geroge Harrison. Esperava-se, portanto, que com mais dinheiro fariam a obra-prima pythoniana, e encerrariam de fato o grupo em alto nível.
- A resposta para o sentido
da vida é muito fácil, como
todos bem sabem...


Isso não significa que o filme é ruim, de modo algum. As piadas de humor negro continuam lá, o humor corrosivo, ácido, ainda hoje causam dores na barriga de quem assiste ao filme. Só não superou as expectativas de todos que esperavam uma obra fenomenal. O filme também não possui uma estrutura narrativa muito elaborada em termos de cinema, já que na verdade é uma verdadeira junção de vários sketches que possuem unidade por si só. É como uma compilação, e se se assiste ao meio sem ter visto o começo não há problema, pois são como células independentes. Um dos fatores que provavelmente influenciou negativamente o trabalho foi o fato de os seis integrantes já não estarem se dando tão bem como quando começaram. Rodrigo Carreiro, do Cineplayers.com, explica melhor a situação:
A produção de “O Sentido da Vida”, por causa dos ciúmes e das ambições pessoais do sexteto, seguiu mais ou menos a mesma lógica que o disco Let It Be, dos Beatles. Cada integrante escreveu esquetes cômicos sozinhos. O resultado, altamente previsível, foi um filme engraçado, mas irregular.
Os gênios e seus egos sempre acabam, invariavelmente, se deixando levar pelo caminho fácil do egoísmo. Com suas carreiras consolidades, com a exceção de Graham Chapman, que lutava contra o alcoolismo (que acabou o matando tempos depois), os Python apenas se juntaram para ganhar mais um pouquinho de dinheiro. Acabaram por fazer um filme bom, mas não o que todos esperavam.


O Sentido da Vida será exibido dia 18 de novembro, quinta-feira, às 16h e 18h30min, no Cine Carcará - porão do Centro de Vivências da UFV.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Comentários