quinta-feira, 18 de novembro de 2010

A Maldição de Alan Moore

por Rodrigo Castro

Watchmen, terceiro filme da mostra Supernova Superheroes, parece um daqueles casos complicados em que muitas vezes nos vemos na vida, seja qual for a ocupação. Foi um tal de adquire direitos aqui, passa para a produtora de lá, vende pra Fulano de Tal... e por fim Zack Snyder (perfil em inglês no IMDb), que consolidou a fama com o belo 300, tocou o projeto para frente, e, a despeito de ter dado prejuízo nas salas de cinema (custou 137 milhões de dólares e arrecadou 107 milhões), conseguiu conquistar boa parte dos fãs da graphic novel de Alan Moore, o rabugento gênio das HQs que nunca assiste às adaptações de suas histórias por considerar Hollywood a maior balela de todos os tempos. Exagero? Veja só o que ele disse ao Movieretriever.com, reproduzido do blog de Ricardo Calil:
Eu acho que o cinema, em sua forma moderna, é bastante ameaçador. Ele nos entrega tudo de colher, o que tem o efeito de diluar nossa imaginação cultural coletiva. É como se fôssemos pássaros recém-nascidos com bocas abertas esperando que Hollywood nos alimente com seus vermes regurgitados. ‘Watchmen’ soa como um pouco mais de vermes regurgitados. Eu estou cansado de vermes. Não podemos ter algo diferente? Até vermes chineses seriam uma boa mudança. (Alan Moore, em entrevista à Movieretriever.com)
Alan Moore, que é pai de coisas lindas como Constantine e V de Vingança (exibido nesta mostra), não se sujeita a aparecer nos créditos dos filmes que são adaptados de suas obras - ele não deseja fazer parte dessa imundície que é o mundo do cinema hollywoodiano. De fato, quem lê as HQs - o que parece ser a sina de adaptações literárias para o cinema quando se tenta transpor para a tela litaralmente o que se lê - percebe, obvia e claramente, a grande diferença entre um e outro. Todo o caráter revolucionário de Watchmen, a HQ, quando do seu lançamento, perde um pouco de sua força no filme, como bem explica Eduardo Valente na Revista Cinética
Quando Zack Snyder sai para filmar 1985 em 2009, ele localiza aquele espaço na segurança de um passado que se permite anedótico para além da sua utilização de realidades paralelas [...]. Mais do que isso, porém, no trabalho de reconstrução com algo devintage e algo de um futurismo passado, o filme ganha um aspecto gráfico de uma plasticidade um tanto fria e hiper-cuidada, que em nada ajuda o sentimento de caos que era o que sobressaía no quadrinho. (Eduardo Valente, crítico da Revista Cinética)
- Holy shit!
A HQ Watchmen tem uma importância fundamental para a literatura: ela rompeu a barreira do que antes era considerado um hobbie de nerds, uma sub-literatura, infanto-juvenil, fantástica, de herois perfeitos que salvam moças em perigo. Prova disso foi o fato de ter entrado para uma seleta lista da revista Times dos 100 Melhores Romances escritos desde 1923 (ano de fundação da Times). Alan Moore e Dave Gibbons, o ilustrador, fizeram com que o público aduto se interessasse por histórias em quadrinhos, não só pelo belíssimo trabalho estético das graphic novels, mas pelo seu conteúdo mais plausível, digamos assim, do ponto de vista de um público acostumado a ler histórias mais, podemos dizer, densas.

O filme é ótimo se visto com os olhos de um admirador das HQs, ou de uma boa história contada na telona. Sua fidelidade exagerada à história original acaba causando um certo desconforto, mas mesmo assim Watchmen consegue, ainda, cativar o público. Vale a pena a experiência de curtir no cinema a adaptação de uma das maiores obras do universo dos quadrinhos - e da literatura, como pode-se perceber -, feita por um diretor novo, que já dirigiu ótimos filmes, e que também conta com a lenda de Alan Moore.

Watchmen será exibido dia 19 de novembro, sexta-feira, às 16h e 18h30min, no Cine Carcará - porão do Centro de Vivência.



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