sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Prévia da Maratona-retrospectiva do Carcará

por Rodrigo Castro


Depois de 66 votos divididos em três enquetes chegamos à primeira parcial da Maratona-retrospectiva do Cineclube Carcará. Festim Diabólico, Brüno e Butch Cassidy & The Sundance Kid foram os escolhidos pelo público para serem exibidos no dia 4 de dezembro, num dia inteiro dedicado ao cinema. Não se lembra que filmes são esses? Diabólico é uma palavra que só te traz más lembranças? Confira a seguir breves análises para refrescar a memória - ou ativá-la, caso você não tenha visto nenhum dos filmes eleitos.



Festim Diabólico é mais uma obra-prima do gênio Alfred Hitchcock, considerado o pai do suspense. O filme foi a primeira produção em cores do diretor britânico que se exilou por livre e espontânea vontade nos EUA, e se deu muito bem fazendo cinema na terra do Tio Sam. Hollywood pareceu ter sido desenvolvida para receber a mente brilhante de Hitchcock. Além de ser o primeiro filme em cores da carreira do cineasta, Festim Diabólico também é uma das primeiras experiências que se tem notícia de um filme rodado todo em plano-sequência (se você não sabe o que é plano-sequência deveria ter vindo no CarcaráLAB - Edição, mas vamos te explicar por aqui: plano-sequência, como todo conceito de cinema, é passível de muitas relativizações. O que se tem como acordo é que o plano-sequência deve ter uma duração mais longa que um plano normal sem cortes - ou seja, deve ser mais demorado que o normal utilizado entre dois cortes -, e que contenha uma ação se desenvolvendo no plano. Isso acontece para diferenciar o plano-sequência dos travellings de câmera, que costumam ser planos mais demorados que o normal, mas não mostram uma ação de fato se desenvolvendo. Você pode conferir um bom exemplo de plano sequência neste  trecho de Filhos da Esperança, ou em nosso canal no YouTube, que contém diversos exemplos de plano-sequência), e é exatamente neste fato que está uma das grandes curiosidades do filme: como eram utilizados rolos de filme finitos de mais ou menos 11 minutos, Alfred Hitchcock teve que usar sua criatividade para dar a sensação de ininterrupção do filme: antes dos rolos acabarem, ele fechava o zoom da câmera completamente sobre algum objeto preto em cena, para em seguida, no próximo rolo, abrir o zoom de onde havia fechado. Com isso, as emendas são imperceptíveis, e a sensação de tempo real causada pelo uso do plano-sequência foi plenamente atingida - na verdade, foi até além do que poderia se esperar. Hitchcock desejava uma história que durasse, na tela, 100 minutos de vida real. Como se sabe, o filme tem 80 minutos. Contudo, uma pesquisa feita pela revista Scientific America, em 2002, revelou que o público que assistia ao filme tinha a sensação de ter gastado os 100 minutos que o filme pretende representar.

Sacha Baron Cohen fez muito sucesso pelo controverso e politicamente incorreto Borat. Suas piadas sobre judeus, as sátiras ao modo de vida estadunidense e o exagero das situações do filme que ridicularizavam tudo e todos garantiram ao historiador (sim, ele é historiador por formação) londrino a consolidação de uma carreira já premiada como humorista. Em Brüno, ele não perde a linha, e, através de um personagem austríaco gay, escracha muitas hipocrisias modernas, como a mania do politicamente correto. A cena em que Brüno, altamente ligado ao circuito da alta costura europeia, "adota" um garotinho africano e o traz dentro da bagagem despachada no avião é um exemplo tão hilariante quanto preocupante. Devido aos temas abordados em seus filmes Sacha nunca agrada a todos, obviamente, mas sua contribuição para este tipo de comédia é incontestável, desde o rapper Ali G até Brüno. Se você também se pergunta de onde ele tira tanta inspiração para suas comédias, talvez encontre a resposta nas pesquisas feitas por Sacha na área da história: de acordo com a página do historiador na Wikipedia, Cohen dedica-se a pesquisar origem do preconceito no mundo contemporâneo, a partir de sua tese na Universidade de Cambrigde sobre o envolvimento judeu no Movimento pelos Direitos Civis nos Estados unidos da América.

Já ouviu falar no Festival de Cinema Independete de Sundance? Se não, é bom conhecer. De lá saem, todos os anos, grandes produções de novos cineastas. Se você já ouviu e acha que Sundance é a cidade que abriga o festival, como tantas outras que dão nome aos festivais, se enganou. Robert Reford, que atuou ao lado do mito do western Paul Newman em Butch Cassidy & The Sundance Kid, gostou tanto de sua personagem que resolveu batizar um dos maiores festivais de cinema independente do mundo com o seu nome. Sim, é isso mesmo: Redford é Sundance Kid, e Sundance Kid virou Fundanção Sundance, que por sua vez agregou o antigo U. S. Film Festival e se consolidou no circuito mundial de festivais de cinema. Curiosidades à parte, Butch Cassidy & The Sundance Kid (o título brasileiro teve o "& Sundance Kid" suprimido - sabe-se lá porque) foi um sucesso em tudo o que se relaciona aos filmes. A crítica adorou, o públicou reagiu melhor ainda, Paul Newman se consolidou na carreira, Robert Redford embalou e a produção guardou um faturamento de 96,7 milhões de dólares para um custo de 6 milhões. Resumindo, todos saíram estampando largos sorrisos nas faces e com os pés-de-meias muito bem encaminhados.

Fique atento para os horários dos filmes, que serão divulgados assim que a última enquete se finalizar. A Maratona-retrospectiva será no dia 4 de dezembro, sábado.

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