sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Os acidentes de Paul Haggis

por Rodrigo Castro

Custo: 6,5 milhões de dólares. Retorno: 54,5 milhões de dólares. Este é o cálculo do investimento de Crash, que ganhou um subtítulo (mais uma vez) ridículo em português. Paul Haggis (bio em inglês no IMDb), que se consolidou em Hollywood ao vencer dois Oscar de Melhor Roteiro consecutivos (um por Menina de Ouro e o outro pelo próprio Crash), dirigiu um dos filmes mais tocantes já feitos nos últimos tempos. Crash é extremamente político, e mostra diversas histórias - daí o motivo de estar na Sessão X Filmes Mosaico - que se entrelaçam entre si e constroem o filme.
Henry Alfred Bugalho, crítico do blog Crítica de Arte, explica melhor do que se trata o filme: "Em 'Crash', Paul Haggis nos apresenta a proximidade, os acidentes (de onde vem o título) que nos forçam a reconhecer o outro como pertencente ao mesmo universo que nós." Esses acidentes acontecem entre diversas pessoas diferentes, de etnias, religiões, condições financeiras, profissões, etc, muito distintas - e cada uma com seus preconceitos. A grande lição talvez seja, como diz Bugalho, constatar o óbvio de que preconceito não respeita nada nem ninguém.

O mais impressionante é que Crash é o filme de debute de Paul Haggis, que se mudou aos 22 anos para Los Angeles para tentar a vida com a Sétima Arte, e logo de cara faturou o Oscar de Melhor Filme. Mário Abbade, do Omelete.com, enfatiza o bom roteiro e direção do filme, que garantem que não haja um protagonista definido, mas sim protagonistas diversos em suas diversas histórias:
Todos estão lá como peões num intricado tabuleiro de emoções que afloram conforme eles se encontram, ou melhor, se esbarram no acaso da vida do dia-a-dia. Nesses encontros, os personagens tomam consciência de quem realmente são e a maneira como conduzem suas vidas, muitas vezes patéticas. O sentimento que serve de fio condutor é o racismo presente nos EUA, um tema que tende a ser empurrado para debaixo do tapete. (Mário Abbade, em Omelete.com)
É importante enfatizar um ponto da análise de Abbade, em que ele afirma que "o fio condutor" dos encontros das histórias "é o racismo presente no EUA, um tema que tende a ser empurrado para debaixo do tapete". Longe de ser uma peculiaridade dos norte-americanos, o filme pode muito bem ser encarado como o retrato de uma sociedade que vive assolada pelo medo, acuada dentro de vários mundinhos particulares, sempre seguros, já que o contato com o diferente é evitado em nome de uma presunção de falta de segurança eminente, como bem escreve Pablo Villaça, no Cinema em Cena: "[...] como podemos manter a serenidade vivendo em uma sociedade na qual nossas crianças, em vez de temerem o `bicho-papão` ou o `boi da cara preta`, sentem medo de balas perdidas e estupradores?".

Crash será exibido dia 20 de novembro, sábado, às 17h, no Cine Carcará - porão do Centro de Vivência da UFV.

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