quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Barton Fink , um homem em luta contra o sistema

por Thiago Alves



Em Barton Fink o estilo de Ethan e Joel Coen continua nos oferecendo o melhor de Hollywood. Os irmãos que deixaram o status de surpresa promissora em 1984 com o lançamento de “Gosto de Sangue” passam a integrar definitivamente o seleto grupo dos cineastas consagrados com a história do dramaturgo novaiorquino Barton Fink, que em 1941 é badalado na Broadway e adorado por toda a imprensa. Suas peças retratam o cidadão comum; ele é o homem do “povo”, o escritor da verdade. Seu gênio no teatro o faz receber uma proposta milionária. Sua missão: escrever para aquele que era o centro da sua dramartugia e não para o homem extraordinárioIsso decepciona sua ambição. Mas aceita a tarefa e se isola em um hotel de segunda categoria para escrever um filme sobre luta livre.

Barton é o personagem habitual dos irmão Coen, aquele que não consegue lidar com o sistema. Está sempre em luta. Aqui não se fala abertamente em política. O próprio filme é o sistema inimigo do roteirista. Ele não consegue dominá-lo. Durante o isolamento no hotel, ele se vê tomado por tal bloqueio que não consegue avançar uma linha do roteiro. Seu vizinho de quarto Charlie Meadows, um amigável vendedor de seguros, passa a ajudá-lo em uma curiosa amizade cercada por acontecimentos bizarros e um surpreendente envolvimento em um assassinato que deixam Barton no total desespero.

Aqui está a quintessência da construção da estrutura dos Coen: Barton Fink não se entende com o roteiro. Não compreende as regras do jogo nem aceita que elas existam para o gênero cinematográfico. Lidar com órfãos excepcionais, uma viúva indefesa e um lutador de luta livre é pior que ler qualquer clássico. E para ele Hollywood é um inferno. Percebe-se como ele sofre com o calor durante todo o filme. A crítica dos Coen é implacável.

A história de Barton faz paralelo com a do inigualável Orson Welles, diretor do filme que ele gostaria ter feito: Cidadão Kane, também lançado em 1941. Outro que contribui com sua história real é William Faulkner. Nos anos 1940, Faulkner realmente foi contratado em Hollywood para fazer um filme de luta livre, e fazia tudo a contragosto, pelo dinheiro, louco de vontade de retornar logo aos romances.

Vale pena ver este clássico dos irmãos Coen que foi a primeira produção na história a faturar no mesmo ano os três principais prêmios em Cannes (filme, direção e ator). Também surpreendeu ganhando a pecha de filme de arte em uma época em que os filmes hollywoodianos eram solenemente desprezados pelos amantes do cinema não-comercial, além de ter tido três indicações ao Oscar.

Barton Fink é parte do Projeto Fã Cine e será exibido dia 29 de outubro, sexta-feira, às 16h e às 18:30, em sessões comentadas, no Cine Carcará - porão do Centro de Vivência da UFV.

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