sexta-feira, 17 de setembro de 2010

A Mulher de Todos - Mostra Especial de Aniversário

por Rodrigo Castro

Eis mais uma obra do chamado Cinema Marginal. Assim como o filme da semana passada, de Julio Bressane, A Mulher de Todos explicita várias das características já citadas do movimento de oposição ao Cinema Novo de Glauber Rocha. Os temas popularescos, a migração do sensacionalismo jornalístico para os enredos, o sexo, a violência, o grotesco... tudo isso está presente no movimento do qual Rogério Sganzerla (bio no Wikipedia) foi um dos maiores ícones. Mas o filme desta sexta é um tanto diferente em relação a Matou a família e foi ao cinema - a começar pelo elenco. Enquanto Julio Bressane contava com um elenco formado por amigos e conhecidos, Sganzerla pode contar com a participação de sua musa-mulher Helena Ignez, além de Stenio García, Jô Soares e Antônio Pitanga - pai de Camila e Rocco Pitanga.

No que se refere ao filme em si, há diversas outras diferenças que merecem ser notadas com mais atenção. Uma delas é que o filme de Sganzerla é especialmente barulhento, em oposição ao de Bressane, que fez do silêncio uma marca de seus filmes. Desde a trilha, passando pelos diálogos às vezes gritados, até os sons ambientes, tudo é bastante estridente. Em cena, os atores não raro olham diretamente para a câmera, em direção ao público, evidenciando a ficcionalidade do Cinema e transformando-o - assim como a posição de observador no filme de Bressane - em parte ativa do filme. Não há mais aquele espectador sentado comportadamente na poltrona da sala de exibição, e sim alguém que faz parte da trama.

Poster original do filme
Mantendo a filosofia marginal de se fazer filmes, A Mulher de Todos tem, como principal objetivo, chocar a sociedade da época, em especial a "vidinha média de classe média", nas palavras de Ruy Gardnier. A narração do filme é uma tremenda tiração de sarro da sociedade da época (e continua, infelizmente, bem atual), assim como todo o filme foi feito pensando em como o exagero faria as pessoas se sentirem mal. A começar pelo próprio título, que já transmite uma ideia sobre do que se trata o filme. Para entender a bronca de Sganzerla com essa população "inculta e analfabeta", como ele mesmo chamou, vale a pena ler um trecho de um texto seu, intitulado Uma videologia da novela, a doença da nação, publicado originalmente em Cine Imaginário, em maio de 1988, e reproduzido aqui através do site Contracampo - Revista de Cinema:
A população não quer ver, nem ouvir com olhos e ouvidos livres, mas tão somente ser vista, aparecer, fazer fama para deitar na cama do sub-sucesso fácil, talvez virar sub-super-star de uma hora para outra, trair sua condição colonial, enganando aos outros e, pior de tudo, a si mesmo. O brasileiro não quer ver mas ser visto. (Rogério Sganzerla, Cine Imaginário - maio de 1988)
A Mulher de Todos será exibido hoje, sexta-feira, às 16h e às 18:30h, no Cine Carcará. Você pode conferir mais informações sobre o filme em dois textos selecionados pelo blog, ambos da Contracampo: um de José Lino Grünewald e outro de Jairo Ferreira, datado do ano de lançamento do filme. 
A Contracampo também possui um especial dedicado a Rogério Sganzerla, com entrevistas, depoimentos, críticas, textos do cineasta, etc.

Não perca amanhã o clássico Janela Indiscreta, de Alfred Hitchcock, terceiro filme do Projeto Fã Cine do mês.

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