sexta-feira, 24 de junho de 2011

A Rosa Púrpura do Cairo


É engraçado perceber como a visão de um filme muda com o passar dos anos. A primeira vez que vi "A Rosa Púrpura do Cairo", filme de 1985 com roteiro e direção do tão adorado Woody Allen, não devia ter mais de 13 anos. Hoje, por razões ainda desconhecidas resolvi assistir mais uma vez já que me lembrava bem pouco do filme. Na verdade a única certeza que tinha é que alguém saia da tela e ia viver no "mundo real". Pois bem, um filme estrelado por Mia Farrow e Jeff Daniels não costuma ser pouca coisa, principalmente quando o roteiro é tão original.
Uma cinéfila em tempos de Grande Depressão sofre com os modos rudes do marido canastrão, perde o emprego por ser desastrada mas não desgruda do assento do cinema. Já conhecida pelo dono do estabelicmento, Cecília ( Mia Farrow) se encanta com um filme sobre ricos entediados que atacados por tédio súbito decidem visitar lugares "excêntricos e românticos" como o Cairo. É na viagem ao Cairo que os ricaços descobrem Tom Baxter(Jeff Daniels), um " explorador,poeta e aventureiro de Chicago", e resolvem levá-lo à Manhatam para um pouco de diversão. O filme era " A Rosa Púrpura do Cairo" e foi assistido pela mocinha sonhadora cinco vezes até o dia que Tom olha dentro dos olhos dela e diz que está apaixonado, saí da tela e vai conhecer o "mundo real". O elenco fica na tela questionando a saída de Tom e o destino do filme enquanto os espectadores,perplexos, exigem reembolso. O ator que deu vida a Baxter no filme, obviamente também interpretado por Jaff Daniels,se chama Gil Shepherd e aparece para convencer sua criação a voltar para as telas, mas conhece Cecília e forma com ela um dos mais bizarros triângulos amorosos da história do cinema.Não considero o marido da protagonista parte do triângulo pois eles já estavam em processo de separação e ela o descarta quando prefere sair com o poeta de chicago a fazer massagem nas costas do cônjuge.
O intrépido aventureiro vindo das telonas se mostra um doce e dedicado apaixonado, divertido com suas indagações sobre a realidade e o livre arbítrio e encontra em Gil um rival a altura.Apesar da postura altiva e egoísta do início, o ator iniciante tem um lado agradável e apaixonado,protagonizando uma cena típica das comédias românticas :um dueto musical no qual Mia toca ukulele e Jeff canta magnificamente.
Depois de encotrar e beijar Gim, Cecília vai ao encontro de Tom, que a transporta para o filme.Eles se divertem como a mocinha nunca imaginou que fosse possível até que Gim reaparece e a convence que é melhor que ela se case com ele para ter uma vida real, já que Baxter não passa de sua atuação atrevida que teimou em ganhar vida.Dividida e muito confusa a garota decide pelo mundo real. Woody Allen não faria um romance tão deslavado com direito a final feliz.É claro que o ator abandona a mocinha de malas feitas.Após briga definitiva com marido e súbita fuga de quem julgara ser seu verdadeiro amor, Cecília vai à estreia do novo filme de Fred Astaire e Ginger Rogers na úlitma cena.
Um filme sobre a Grande Depressão que não pretende mostrar o óbvio já merece meu respeito. Na verdade, Allen por si só já merece o meu respeito, afinal nunca escondi a minha predileção pelo cineasta norte-americano (espero que ainda com hífem). O tom leve e despretensioso não prejudica a reflexão possível sobre a liberdade de escolha dos humanos e também a multiplicidade de interpretação de uma mesma obra,manifestada no caso do filme na autonomia que os personagens conquistam. Muito mais do que uma quase-comédia romântica. De todos os filmes que já produziu, atuou, escreveu, A Rosa Púrpura é um dos favoritos de Allen, e devo confessar, meu também.

Um comentário:

  1. Adoro a suavidade desse filme. Desmente quem diz que os filmes do Woody Allen são todos iguais(como eu já disse há um tempo atrás). È o meu favorito também!

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Comentários