quinta-feira, 2 de junho de 2011

Era uma vez filmes feitos para crianças...

Por Lucas Dias

Como já é costume, todo ano o Cineclube Carcará organiza uma mostra de animações - e, convenhamos, uma mostra por ano dedicada ao tema é bem pouco se se considerar a expansão que o mercado consumidor deste tipo de filme vem sofrendo, ainda mais com o alto grau de desenvolvimento tecnológico que permite criações usando inteligência artificial e, mais recentemente, em 3D (não que o 3D seja algo atualíssimo, mas só agora encontraram, de fato, o nível ótimo de sua utilização - para o bem e para o mal).



Ainda há muita gente que associa o gênero a produções voltadas exclusivamente para o público infantil e não vêem as animações com o devido respeito e seriedade. Em parte, há motivos suficientes para que se pense dessa forma, como o fato do mercado de massa só abastecer nossos cinemas com animações rasas - pouca história e pirotecnia de efeitos computadorizados - e a própria televisão, que ultimamente vincula toda a sua programação infantil ao pior lixo animado existente.


O que acontece, de fato, é que a categoria animação traz uma qualidade não apresentada por nenhuma outra modalidade de produção de filmes: a liberdade irrestrita de criação. O papel e o computador desconhecem a gravidade, as limitações humanas e qualquer outro problema técnico relacionado aos filmes, sendo as únicas barreiras as limitações daqueles que criam. Há de se argumentar que todos os gêneros produzidos gozam de tal liberdade, e, ionegavelmente, a tecnologia atual tem permitido criar efeitos incríveis em filmes recentes. Porém, esses efeitos são essencialmente animados - há o recurso às técnicas de animação, já que ela permite dar vida a qualquer tipo de quimera - aliás, animar vem do latim e significa "dar alma", "dar vida" - e criar mundos surreais sem muita dificuldade e de forma bastante expressiva. Os desenhos animados são intrinsecamente expressivos.


A expressividade em animação é alcançada pelos seus elementos pictóricos, assim como numa ilustração. O traço, as cores e luz e a textura são os principais e que primeiro saltam aos olhos quando assistimos a uma produção do gênero.


O traço é o mais individual dos elementos. É a forma como os objetos são desenhados - ou modelados, a feição dos personagens, os contornos da paisagem. O traço determina a "personalidade" da animação - se infantil, provavelmente veremos contornos mais arredondados e figuras geométicas mais simples; se agressivo, encontraremos formas mais angulosas, e por aí vai...
Linhas angulosas do
personagem de Inferno de Dante
Linhas mais suaves no
personagem de
O Segredo de Kells










As cores dão vida às animações. Se são alegres, sombrias, tristes, enfim, induzem um estado de espírito, uma sensação que se espera do espectador ao assistir uma determinada cena.
O cenário sombrio, em preto e
branco de
Renaissance
Cores fortes e vibrantes do
filme
Fantasia, da Disney











A textura é a aparência geral dos quadros animados, obtida por um jogo entre cores, luz e traço, de modo a criar efeitos "tateis" sobre os planos desenhados. É um tanto complicado de se explicar o que é a textura em animação, mas algumas imagens ajudam a explicar:
A cidade de Edimburgo apresenta
uma textura aquarelada em
O Mágico
Waking Life, um filme com textura
grosseira, parecendo uma
vetorização mal feita




Textura tipo vitral - desenho chapado
sobre fundo colorido - em
Príncipe e Princesas


Espero que essas características apresentadas sejam úteis na percepção e no julgamento da qualidade estética de uma animação.


Programação da Supernova Animações


02 de junho
O Mágico
de Sylvain Chomet - França - 80min - 2010


16 de junho
O Segredo de Kells
de Tomm Moore e Nora Twomey - França - 75min - 2009


30 de junho
O Inferno de Dante - Uma Animação Épica
de Sean Meredith - EUA - 88min - 2007

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